Cinco temas que o ecossistema empreendedor e as organizações sociais precisam ficar de olho em 2022
A partir de sua experiência no universo microempreendedor, a diretora de negócios Neuza Lima listou elementos que devem nortear, assim como exigirão empenho, de organizações e empreendedores.
Na última matéria de destaque aqui no Empreender 360, o especialista em advocacy José Henrique Nascimento trouxe uma visão bem interessante sobre como o ecossistema empreendedor por enxergar oportunidades com o poder público em ano de eleições. Agora, do outro lado dessa história, Neuza Lima, fundadora e diretora de negócio da Integração Escritório de Inovação e Gestão em Projetos, traz um pouco do olhar de quem está atuando na ponta neste período desafiador.
Neuza lembra que um bom começo para avaliar os espaços que as organizações sociais podem ter em suas atuações locais está no fato de valorizar seu trabalho e enxergar os benefícios e impacto de seus esforços de forma mais ampla. “O empreendedorismo tem se tornado cada vez mais importante para o desenvolvimento econômico no Brasil. É preciso lembrar que 30% do PIB da economia brasileira vem desse setor. Mesmo durante a crise da Covid, milhares de pessoas abriram os seus próprios negócios, mobilizaram outros empreendedores e investidores e geraram renda dessa forma”, comentou.
A diretora cita uma análise do presidente do Sebrae, Ricardo Melles, na qual ele destaca que o Brasil foi o país onde a pandemia acabou por impulsionar o crescimento do empreendedorismo no longo prazo, com uma expansão de 42%. Esse crescimento, evidentemente, precisa ser analisado em diferentes ângulos. Relatórios como o divulgado pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) debate, por meio de dados, o aumento de negócios mais frágeis e do empreendedorismo por necessidade.
Diante desse cenário, quais são as cinco questões que devem nortear a atuação das organizações da sociedade civil (OSC) e do ecossistema empreendedor neste ano? Confira:
- Ano eleitoral: microempreendedor e o fortalecimento da economia do país
No atual cenário, ainda pandêmico e de eleições, é preciso questionar e ficar de olho em como os candidatos estão visualizando o microempreendedorismo como parte do fortalecimento econômico do país e de que forma esse tipo de empreendedorismo está inserido nos seus planos de governo. O empreendedorismo como opção de geração de renda familiar e inclusão produtiva é algo que merece bastante atenção, pois pode mudar a realidade de mais de 34 milhões de brasileiros que hoje estão na informalidade, por exemplo.
Além disso, vale a pena entender o que está sendo feito sobre seu tema em sua cidade com a Prefeitura e orgãos de atendimento ao microempreendedor. As eleições são federais e estaduais, mas a administração municipal continua e as vezes só precisa de um incentivo e parceria para começar a rodar algum projeto mais significativo localmente.
2. Trabalho em rede para fortalecer o microempreendedorismo
Uma rede é conhecida por seu entrelaçado de fios, que, assim, formam um produto único e forte. A empreendedora social Adriana Barbosa, em conversa com o Empreender 360, afirmou que a coletividade será fundamental para enfrentar um ano repleto de desafios. O próprio trabalho do projeto Empreender 360, da Aliança Empreendedora, só faz sentido no desenvolvimento em rede. Uma rede que congrega microempreendedores, empresas, OSC ou outras instituições que apoiam o público final. Como organização ou negócio social quem articula com você? Quem complementa seu trabalho de alguma forma? Esse olhar mais sistêmico ajuda no dia a dia da organização e também nos momentos em que é necessário representatividade frente aos temas que o microempreendedorismo levanta.
3. Tecnologia e inovação: como ultrapassar barreiras e apoiar pequenos negócios
Pagamento via PIX, venda pelo Mercado Livre e outras plataformas, entregas pelo Ifood, aplicativos de gestão financeira…o leque de opções tecnológicas na hora de empreender é imenso e, apesar de trazer benefícios, também escancara um Brasil ainda desigual quando o assunto é acesso à essas oportunidades. Segundo dados da Anatel, houve sim crescimento do total de domicílios com acesso à internet, os usuários das classes D e E, por exemplo, saltaram de 50% com acesso para 64% na pandemia. Porém, cerca de 90% das casas das classes D e E se conectam à rede exclusivamente pelo celular e de forma bem precária ainda.
Outra pergunta que a organização pode fazer para apoiar o microempreendedor na ponta é como conciliar essas inovações com os empreendimentos tradicionais? Já que muitas vezes o acesso acontece, mas há uma resistência ao que foge o tradicional. Além disso, Neuza ressalta que para as organizações que trabalham com o microempreendedor e adaptou de alguma forma seu atendimento ou conteúdo às plataformas digitais como Whatsapp ou YouTube por conta da pandemia, fica agora a avaliação do que permanece online e do que volta para o presencial. Parece que os cenários diante dessa doença, que ainda não se apresenta estável, vão exigir reflexões durante todo o ano.
4. Organizações sociais e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)
Já ouviu falar da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ? Essas letrinhas estão populares desde que foi aprovada em 2018 no Brasil, mas ainda levanta dúvidas quanto à sua aplicação. Ainda hoje, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral, cerca de 40% das empresas dizem não estar preparadas para a entrada em vigor das penalidades previstas pela nova legislação. Vale lembrar que a LGPD não está restrita às grandes empresas e zelar pela segurança cibernética é um dever de todas as organizações, até mesmo as não governamentais.
O estudo também mostoru que 69% das organizações da sociedade civil (OSCs) já ouviu falar sobre Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), mas ainda não se aprofundou no tema. Em edições futuras vamos trazer mais informações e mostrar a importância de se adequar a lei para a própria organização social e para o ecossistema de apoio à causa.
5. Diversidade dentro e fora da instituição
Um tema que não sai da pauta e é de extrema importância ainda em 2022 é diversidade – e estamos falando dela em sua forma mais ampla. Não chegamos em uma realidade mais justa dentro e fora de empresas e organizações sociais quando o assunto envolve raça, gênero, orientação sexual e outros.Um breve exemplo desse cenário ainda desigual é que em São Paulo, em 2019, só 3,69% de candidatos promovidos ou contratados para cargos de liderança em empresas eram negros. Para as mulheres, a ascensão foi ainda menor, representando 1,45% das contratações.
Esse olhar é necessário para dentro e fora da organização. Além dos cuidados com o assunto voltado para o público final, fica o questionamento sobre os colaboradores e equipes internas. Como sua organização trabalha as vagas e ocupações? Existe um comitê interno para tratar o assunto com mais atenção? Já falamos sobre esse assunto aqui no Empreender 360 em outra matéria, com foco no racismo, e demos dicas sobre criação de conselhos e abordagem do assunto.
Além dos cinco elementos apresentados por Neuza Lima, o Empreender 360 acrescenta a importância de acompanhar a política pública do Microempreendedor Individual (MEI), que passa por mudanças neste ano de 2022 com a tramitação e aprovação no Senado do Projeto de Lei Complementar (PLP) 108/21. Produzido pelo Empreender 360, o estudo “Caminhos para redução da informalidade e melhorias do MEI” propõe medidas reais e práticas para várias problemáticas relacionadas a essa política.
Vale a pena aprofundar um pouco em cada item e entender o que o ano trará e exigirá sobre os temas levantados. Vamos juntos avaliando e se conectando!
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