Transcorridos alguns meses de pandemia do coronavírus, o ecossistema de empreendedorismo começa a aprofundar as pesquisas e reflexões sobre os impactos econômicos do Covid-19. Recentemente, publicamos aqui um conteúdo sobre o crédito para os pequenos negócios em tempos de pandemia. Seguindo a reflexão, trazemos a pesquisa realizada pelo Sebrae e Fundação Getulio Vargas (FGV) que começa identificando em vários países ações governamentais de auxílio em quatro grandes eixos:

  • Flexibilização e incentivo ao pagamento de impostos
  • Incentivos tributários e econômicos para a manutenção de empregos
  • Ativação econômica, com injeção de dinheiro e ações específicas para MPEs
  • Financiamento e empréstimos

Em nosso país, as medidas adotadas pelos governos federal, estaduais e municipais se assemelham às ações globais. A edição da MP 936/2020 está possibilitando a criação de medidas para preservar os empregos e estimular a economia, como o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e o auxílio emergencial a trabalhadores autônomos, informais e Micro Empreendedor Individual (MEI).

Mesmo assim, MPEs e MEIs, que possuem pouco capital de giro, continuam com dificuldades para sobreviver ao longo período de isolamento social e medidas de restrição de funcionamento. A pesquisa Sebrae/FGV considerou uma amostra composta por 56,7% MEI, 38,1% ME e 5.2% EPP e, segundo ela, 34,2% das MPEs e 52,2% dos MEIs não conseguem funcionar sem ser presencialmente, ou seja, quase metade dos microempreendedores brasileiros não está faturando. Eles estão dentro dos 90% de pequenos negócios que relataram diminuição de faturamento.

Nesse contexto, o aumento do endividamento e do risco de inadimplência é evidente. A pesquisa aponta que mais da metade dos pequenos negócios têm dívidas/empréstimos, sendo que cerca de 36,8% das MPEs e 21,4% dos MEI, estão com seus compromissos em atraso, o que dificultará o acesso à crédito para manutenção de negócios e empregos. Além disso, 68,1% das MPEs e 52,5% dos MEI acreditam que será necessário tomar empréstimo para manter o funcionamento de seu empreendimento sem gerar demissões.

Porém, na outra ponta há uma mercado de concessão de crédito defasado e ainda de difícil acesso para este público. Menos de 40% dos empreendedores buscou empréstimos desde o começo da crise. Destes, 86% não conseguiram ou aguardam aprovação. Os mais buscados são os bancos públicos, que receberam 63% destes pedidos. Já as cooperativas de crédito, que são as que têm as maiores taxas de aprovação, receberam apenas 10% dos pedidos.

E por que o crédito não chega na ponta? Segundo a pesquisa, as razões alegadas pelos empreendedores foram:

  • a empresa está  negativada no CADIN/Serasa por débitos anteriores (25,3%)
  • taxas de juros consideradas altas (18,8%)
  • falta de garantias ou avalistas (13%)
  • 12,4% alegaram não saber a razão da negativa

A procura por crédito aumentou nos últimos meses, mas o sistema financeiro ainda não atende a esta demanda, seja por ser ainda pouco flexível nas exigências, seja por falta de agilidade nos protocolos de análise de créditos nesse período, ou ainda por não conseguir praticar taxas e condições diferenciadas em função do momento de calamidade pública que estamos vivendo.

Por isso, mais uma vez, reforçamos que o Empreender 360 destaca e incentiva os bancos e o ecossistema como um todo a trabalharem com OSCIPs e agentes de microcrédito que estão na ponta, para que os recursos públicos e privados cheguem nos empreendedores. Também destacamos e temos trabalhado para ressaltar a importância do Poder Público na garantia do repasse de microcrédito por parte dos bancos privados e públicos, previsto em lei. Por fim, destacamos o papel do terceiro setor e dos próprios empreendedores em se empoderar e promover o acesso a informação referente às modalidades e condições de crédito para micro e pequenos empreendedores.

Atualização da pesquisa (junho)

O Sebrae e a Fundação Getulio Vargas (FGV) publicaram uma nova atualização da pesquisa, referente ao período entre a primeira semana de abril (dia 7) e o início de junho (dia 2). A pesquisa revela que desde o início da crise, cerca de 6,7 milhões de pequenos negócios buscaram empréstimos em bancos. Por outro lado, também aponta que continua elevado o número de pedidos negados ou aguardando resposta das instituições financeiras. Dos 6,7 milhões de empreendedores que tentaram, apenas 1 milhão efetivamente conseguiu obter crédito durante a pandemia. Os principais motivos continuam sendo o CPF com restrições, a negativação no CADIN/Serasa e a falta de garantias ou avalistas.

A pesquisa mostrou também um crescimento do número de empresas com dívidas/empréstimos em atraso (a variação foi de 33% para 41%) entre a primeira semana de maio (dia 5) e o início de junho (dia 2). Por outro lado, também se identifica um movimento de retomada da atividade econômica na maior parte do país. Mais empresas conseguiram se adaptar à conjuntura de isolamento social e passaram a usar as redes sociais, aplicativos ou internet para realizar vendas. Antes da crise 47% dos pequenos negócios vendiam de forma online e o percentual subiu para 59% dos empreendedores. A média geral de queda de faturamento caiu de -60% para -55%.

Abaixo você pode fazer o download da pesquisa completa realizada pelo Sebrae e FGV (3ª edição), bem como as apresentações resumidas das 3ª e 4ª edições da pesquisa.