Há alguns meses escrevi aqui um artigo sobre a participação de pessoas com deficiência (PcD) na economia e o papel do empreendedorismo para a inclusão social e econômica destas pessoas e suas famílias. O conteúdo gerou bastante procura e reflexões sobre o tema. E para dar continuidade ao assunto, trazemos hoje um exemplo prático de como o ecossistema pode atuar frente aos desafios enfrentados por essas pessoas.

Recentemente, a ASID (Ação Social para Igualdade das Diferenças) publicou o relatório do Programa Empreenda 2020. Realizado em parceria com o Grupo Risotolândia, esse programa tem como objetivo a geração de renda para famílias de pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social, através da criação e desenvolvimento de micro empreendimentos. 

Ao total, foram 18 mães de pessoas com deficiência da região de Araucária e Almirante Tamandaré, no Paraná, inscritas no projeto. Essas mães receberam capacitação online em empreendedorismo, gastronomia e reaproveitamento de alimentos, além de mentoria, auxiliando as participantes a alavancar os seus negócios e gerar potencial da pessoa com deficiência no empreendimento. O problema atacado por esse programa é complexo e muito comum.

“Em famílias que possuem PcD (pessoa com deficiência), um membro acaba se dedicando exclusivamente para acompanhar a PcD, o que dificulta a permanência em um trabalho formal. Por consequência dessa realidade, a maioria das pessoas estão em situação de vulnerabilidade social, dependendo de instituições ou auxílios governamentais para sanar suas necessidades diárias. A questão da deficiência traz uma dinâmica diferente de relações para dentro da família e uma rotina voltada quase que, exclusivamente, para as PcD. A dificuldade do desenvolvimento da PcD e sua família acarreta em algumas questões que vão desde problemas financeiros, pois geralmente o tratamento é continuado e por isso, na maioria das vezes, os responsáveis abdicam de seus empregos para cuidar da PcD; emocional, pois em alguns casos a situação da PcD pode desmotivar a família e dificultar as chances de um futuro melhor e independente para todas as partes e, por fim, social, onde essa dependência afasta as famílias do convívio com outros grupos sociais.”

De acordo com a Teoria de Mudança do programa, para alcançar o objetivo – isto é, a criação do microempreendimento - as participantes precisariam cumprir três pré-condições:
• aumento na sua autoconfiança: “eu posso empreender”
• aquisição de ferramentas empreendedoras básicas: “sei empreender”
• prática de habilidades empreendedoras: “ajo como empreendedora”.

Assim como defendemos nas metodologias da Aliança Empreendedora, a capacitação vai muito além da parte técnica. A depender de cada contexto e público, o desenvolvimento da autoconfiança e o mapeamento e adaptação de competências e habilidades, entre outras coisas, são essenciais para a geração de impacto.

Das 18 famílias inscritas, 9 realizaram o programa completo e 7 micro empreendimentos individuais foram criados. Os resultados mostras que é possível fomentar o empreendedorismo entre as famílias com PcD. Uma vez motivadas, incluídas em uma rede de apoio e com exemplos similares e com as capacitações e mentorias adaptadas às suas realidades, as famílias apresentaram potencial empreendedor e a possibilidade de aumento de renda através de seus próprios negócios. A maior barreira, assim como acontece em outros contextos de vulnerabilidade social, talvez esteja na falta de acesso a capital e insumos para poder alavancar os empreendimentos. Por isso, também é importante que o ecossistema inclua em seus projetos e programas possibilidades de acesso à fontes de capital e redes de economia colaborativa para que, cada vez mais, quebremos barreiras de acesso e crescimento para empreendedores e empreendedoras.

Você pode ler o relatório de impacto completo do Programa Empreenda AQUI.