Uma análise sobre o ecossistema empreendedor de São Paulo
Entre junho de 2019 e fevereiro de 2020, a Global Ecosystem Dynamics Initiative (GED) e o MIT D-Lab Local Innovation Group, com o apoio do Santander Universidades, realizaram na cidade de São Paulo parte de um estudo que analisou os ecossistemas econômicos de 6 metrópoles: São Paulo (BRA), Buenos Aires (ARG), Cidade do México (MEX), Madri (ESP), Montevidéu (URU) e Santiago (CHI). O objetivo do estudo foi analisar a composição e dinâmicas de colaboração dos ecossistemas de empreendedorismo baseados em inovação, assim como os desafios e oportunidades de desenvolvimento.
Mesmo com a limitação geográfica da cidade de São Paulo, em relação ao ecossistema empreendedor do Brasil, para nós é muito importante aprender com estas análises e disseminá-las. Por isso, trazemos um resumo do relatório executivo sobre os estudos na capital paulista.
As informações relatadas são fruto de uma interlocução com os próprios atores do ecossistema e a metodologia coloca os empreendedores como o centro do ecossistema e como o principal usuário dele. O modelo, nomeado TE-SER, permite classificar e descrever as organizações de acordo com seu papel no ecossistema e facilita a identificação das relações entre elas.
Toda a investigação foi feita através de workshops e dinâmicas com todos os atores do ecossistema, valorizando a colaboração e troca entre todos e excluindo a necessidade de enquetes e formulários quantitativos. O estudo identificou e convidou para a pesquisa 128 atores do ecossistema. A Aliança Empreendedora foi um dos 34 que participaram do estudo: metade (50%) pertence ao grupo de provedores de ferramentas e recursos, financeiros ou não; 20% são instituições públicas e privadas geradoras de conhecimento; os demais se dividem em organizações civis formais ou informais; articuladores que conferem coerência e estabilidade ao ecossistema, criando e executando políticas públicas, bem como espaços de colaboração; promotores da cultura do empreendedorismo e inovação; e “vinculadores” que conectam empreendedores, empresas e outros atores fomentando a colaboração e influenciando políticas públicas do setor.
Para os participantes do estudo, com exceção das organizações civis, todos estes grupos de atores são fundamentais no surgimento e estabelecimento do ecossistema, principalmente os provedores de ferramentas e recursos e os articuladores. Por outro lado, segundo o próprio ecossistema, as instituições geradoras de conhecimento e os promotores da cultura não são atores chave para o crescimento do ecossistema. Um dado interessante é que, apesar dos geradores de conhecimento não serem considerados atores chave, eles são os que mais detêm recursos disponíveis, o que indica a necessidade de maior interação deste grupo com os demais. O estudo destaca a pouca quantidade de articuladores e organizações civis como um ponto de atenção, pois o primeiro tem alta relevância no desenvolvimento de políticas e programas de fomento ao empreendedorismo, e o segundo é importante no apoio a empreendedores iniciantes e é fonte de colaboração e conhecimento.
O estudo apresenta 4 propósitos do ecossistema de empreendedorismo baseado em inovação da cidade de São Paulo:
1. Um ecossistema de inovação de referência na América Latina receptivo aos miniecossistemas que orbitam a cidade de São Paulo.
2. Prover soluções para problemas complexos de ineficiência social e empresarial em um contexto diverso.
3. Impulsionar a economia de sua diversidade cultural.
4. Ser um ecossistema atrativo e vibrante no contexto global a partir da diversidade econômica e cultural.
A respeito das características do ecossistema de São Paulo, o estudo destaca o contexto nacional e ampla expansão e desenvolvimento do setor nos últimos anos e apresenta 3 informações principais. A primeira traz um dado de alta intensidade de colaboração em comparação com as outras cidades analisadas. Isso indica que, na maior parte das vezes (91,3%), a colaboração entre os atores é de alto impacto ou de benefício para os participantes. A segunda destaca a grande quantidade e diversidade de grandes players (centros gravitacionais) desse ecossistema, como SEBRAE, Inovabra, BNDES, CCTI (Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação), MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) e USP. Isso reduz a dependência excessiva de políticas públicas, possibilita a maior diversidade de visões e integra um maior número de atores. Por outro lado, há uma menor relação de colaboração entre esses grandes players, o que dificulta a coerência entre eles e a estabilidade do ecossistema. O estudo indica que se faz necessário a presença de um “Articulador preponderante” para aumentar as conexões entre uma rede e outra. E a terceira traz a análise de que, apesar de haver poucas colaborações conjuntas entre vários atores, a intensidade das colaborações com poucos participantes é alta e gera benefícios significativos.
Foram mapeadas ao todo 360 dinâmicas de colaboração e 216 atores. Segundo a pesquisa, as maiores motivações para buscar colaboração são o desenvolvimento de um projeto em conjunto e troca de conhecimento e melhores práticas. Esse foco das organizações em resolver necessidades inerentes ao ecossistema, a frente dos interesses individuais, é positivo. Outro indicador analisado é o número de interações (reuniões, trocas de e-mail) para chegar em colaborações exitosas. Segundo a pesquisa, são necessárias em média 6,3 interações, número considerado alto. Em colaborações com resultado negativo, a média aumenta para 8. Uma das recomendações de melhoria aborda isso e destaca que essas interações consomem recursos importantes, principalmente o tempo, que poderia ser usado para outras atividades estratégicas.
Outra recomendação e ponto de atenção oferecido pelo estudo é que os empreendimentos não devem estar totalmente voltados ao capital, sem olhar para as problemáticas e necessidades da comunidade.
“O ecossistema de São Paulo deveria reduzir a dependência do capital de risco externo e concentrar o foco em incrementar a colaboração entre os atores chave.”
Você encontra o relatório executivo (em espanhol) para download clicando AQUI.
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Vinicius Riechi Pereira
Bacharel em Administração (UFPR), com formação em Gerenciamento de Projetos de Desenvolvimento (PMD Pro), Vinícius é assistente de projetos, excelência e impacto na Aliança Empreendedora desde 2017.
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