A série de webinários promovido pelo Empreender 360 e Bank Of America, em parceria com a Firgun e Integração, debateu a inclusão empreendedora nas cidades. Nesta edição inédita de webinários, estamos falando sobre os pontos de alavancagem para o desenvolvimento de empreendedores de baixa renda, que estão colocados na nossa Carta Compromisso. Esta foi criada com representantes do governo, empresas e sociedade civil, e estabelece diretrizes para a criação de  soluções, fomentando o empreendedorismo e economia local, com um olhar especial para as eleições 2020. Nesta série, juntos com vários especialistas e empreendedores do ecossistema, criamos uma oportunidade para esclarecermos as necessidades e apresentar ideias de desenvolvimento social e econômico.

Neste quinto webinário, o tema foi o pilar de “Inovação e Impacto”: quais são as últimas novidades pensando o empreendedorismo de pessoas em situação de vulnerabilidade social?. Gustavo Oliveira (Accenture), Angleo Loula (UEFS), Tamila dos Santos (AfroImpacto) e Luis Coelho (Empreende Aí) contam que é preciso “sair da caixinha” e pensar novos padrões de atuação para vencer as dificuldades presentes na realidade das pessoas de baixa renda e que precisamos tornar o empreendedorismo acessível a todos, juntando desenvolvimento local e impacto social positivo.

O painel teve como palavra chave o conhecimento, como deixar a linguagem acessível ao contexto dos empreendedores e como guiá-los na transformação digital. 

O mediador deste painel, Gustavo Oliveira é coordenador de investimento social da Accenture, engenheiro da computação. O objetivo da área é capacitar pessoas em situação de vulnerabilidade social a alcançarem maior empregabilidade ou empreendendo, com a formalização de negócio e uso de tecnologia para  conectar-se com clientes, tendo atingido 3,5 milhões de pessoas ao redor do mundo. São parceiros da Aliança Empreendedora no projeto Parceiros em Ação que auxilia pequenos empreendedores de periferia a como utilizar ferramentas para aumentar o impacto de seus negócios e melhor atuar no cenário de pandemia e pós-pandemia. 

Tamila dos Santos é assistente social pela Universidade Federal da Bahia, gestora de inovação social pelo Instituto Amane e também é CEO e fundadora da Afroimpacto. Trabalha com diversidade há mais de 10 anos em diversos recortes, como gênero e raça e orientação sexual. Atualmente trabalha com promoção da igualdade racial em seu negócio social, que surgiu a partir da necessidade: após trabalhar com desenvolvimento de metodologias de inovação para startups Tamila decidiu oferecer consultoria para negócios periféricos. Ela percebeu que consultores não periféricos e não negros conduziam o processo de consultoria carregados de pressupostos e vieses, sem compreender a realidade do empreendedor que estão atendendo.

Ela destaca as singularidades desse perfil: é um empreendedor que começa sem saber que está empreendendo, que atua, que cria em comunidade e por isso o primeiro passo é ensinar que esta mobilização é empreendedorismo, pode ser estruturado, mensurável, que traz uma transformação efetiva: “mostrar que isso é impacto social”.  

Seu trabalho envolve também a tradução de termos e metodologias para o contexto dos empreendedores, não só do inglês e da linguagem acadêmica, mas traduzir para o cotidiano e transformar esses conhecimentos em termos acessíveis. Ela trabalha também para retirar os vieses meritocráticos do discurso empreendedor, para que o impacto social seja mensurável. Hoje, a Afroimpacto está com 1,5 anos e já atendeu mais de 200 empreendedores, com foco especial em transformação digital 

Jennifer Rodrigues é psicóloga e fundadora do Empreende Aí, negócio social que se define como “escola de negócios da periferia e para a periferia”, criada em 2015. Começaram como um blog até participarem de uma palestra de Muhammad Yunus e ao sair pensaram como poderiam gerar mais impacto nos territórios onde moram em São Paulo. Como trouxe Tamila, eles identificaram de início as barreiras de linguagem que se impõem ao empreendedor que quer acessar um conhecimento qualificado e isso os motivou a criar sua própria metodologia, “Despertando o Empreendedor”, que inclui autoconhecimento, ideação, modelagem e gestão do negócio e já capacitou mais de 900 pessoas. Identificaram que os empreendedores começam por necessidade mas se sentem sem apoio para os próximos passos, para escoar sua produção e tem bastante dificuldade em acessar a crédito em bancos tradicionais. O portfólio do Empreende Aí oferece cursos em diversos formatos, presenciais e à distância e gerenciam coworkings públicos na cidade de São Paulo, e sua atividade já ganhou capilaridade em outros estados brasileiros. 

Ela destaca a importância de enxergar a escola de negócios como uma proposta de difundir conhecimento entre semelhantes, em pé de igualdade, “entre os nossos”, como diz Jennifer, que afirma que as periferias são uma potência criativa e econômica. .  

Angelo Loula é professor de engenharia da computação na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), professor e pesquisador da área de Inteligência Artificial. Conta que se aproximou do tema do empreendedorismo no Núcleo de Inovação Tecnológica da UEFS. A partir de 2012 começaram a trabalhar com educação empreendedora e para ele a palavra chave deste painel é conhecimento, principalmente pensando no papel da Universidade, que através da adoção de cotas sociais e raciais percebeu novas demandas entre os novos ingressantes. 

Em sua apresentação problematiza a questão da inovação e do empreendedorismo no Brasil. O país é muito mal posicionado em rankings de inovação, o que considera incompatível com o tamanho da economia do país e da nossa produção de conhecimento. Outro indicador, o registro de patentes, mostra que somos muito dependentes de tecnologia criada fora do país, sendo que a maior parte dos registros são de empresas não residentes, que depositam as patentes para terem direitos exclusivos de exploração econômica. Angelo apresenta o modelo de inovação chamado de tripla hélice, com instituições de ciência e tecnologia (com pesquisadores, estrutura tecnológica e conhecimento), mercados (oferecendo necessidades, oportunidades e tendências) e governo (com políticas de fomento, regulação e subsídios). Este modelo é considerado uma receita de sucesso em países de todo o mundo.  

Entre políticas públicas, o pesquisador aponta alguns caminhos, como fomento, incentivos e financiamento; capacitação e treinamento; inclusão digital; espaços de inovação; incubadoras e aceleradoras públicas; hackathons de inovação; cooperação para inovação e parcerias com universidades e institutos de pesquisa e desenvolvimento, entre outros.