Estudo aponta que cerca de 60% de jovens brasileiros desejam ter o próprio negócio
Empreender é uma opção diante do desemprego, mas especialista diz que é preciso ir além do empreendedorismo por necessidade. Recém-lançado, o Guia do Programa Pense Grande pode ajudar nesse processo com um passo a passo para a incubação de negócios.
O Brasil fechou o ano de 2021 com 12,9% da população desempregada, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada em dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice, em 2020, chegou a quase 15 milhões de pessoas sem nenhuma ocupação. A pesquisa do IBGE ainda revela outro dado preocupante: a falta de trabalho é maior entre os mais jovens. Na faixa etária de 14 a 17 anos, 46% estão em busca de uma colocação no mercado. E, de 18 a 24 anos, o desemprego afeta 31% das pessoas.
Segundo uma nota técnica divulgada pela Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Economia, em agosto de 2021, a juventude é a maior parcela das pessoas que vivem o chamado desemprego de longo prazo, quando os cidadãos e cidadãs passam mais de dois anos procurando uma vaga de trabalho.
Essa problemática é caracterizada por pessoas desempregadas entre 17 e 29 anos. Outro recorte apresentado pela nota diz respeito às mulheres, que ainda são as mais afetadas em longo prazo, em uma proporção de duas jovens para um jovem do sexo masculino. Também é grande o número de pessoas com baixa escolaridade.
A opção de empreender
Com a falta de postos formais de trabalho e o impacto maior entre os mais novos, o empreendedorismo tem sido uma forte opção entre essa parcela da população. Uma pesquisa realizada pela Rede Globo sobre o empreendedorismo jovem mostra que 60% dessa parcela da população no Brasil, com até 30 anos de idade, querem ter o seu próprio negócio. Divulgada no segundo semestre de 2021, o levantamento mostra que 24% dos jovens das classes A, B e C já são empreendedores. O estudo revela que ao optar por empreender, os principais pontos levantados em consideração pela juventude foram:
– 67% querem ter um negócio para se tornar independentes financeiramente;
– 39% para ter mais autonomia e não ter chefe;
– 33% ter tempo mais flexível;
– 31% querem oferecer um produto/serviço inovador ao mercado.
Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), os jovens possuem características e habilidades que podem ser potencializadas por meio do apoio profissional e de capacitações voltadas a esse público. “O jovem empreendedor precisa desenvolver uma percepção clara para saber observar quando houver recursos escassos em sua região, ou que não estejam sendo devidamente explorados”, considera o artigo Características de jovens empreendedores.
Incubação de um negócio ou ideia
Diante desse cenário, um dos caminhos para tirar a ideia do papel e realmente começar e desenvolver algo, é a incubação de negócios. O termo incubação pode, de cara, parecer diferente para algumas pessoas, pois remete ao ato, natural ou artificial, de chocar ovos. No mundo dos negócios, esse processo se refere a um projeto ou empresa que tem como objetivo a criação ou desenvolvimento de pequenas ou microempresas, em que são apoiadas nas primeiras etapas de suas vidas.
Iniciado em 2013, com forte atuação até 2021, o Programa Pense Grande, da Fundação Telefônica, apoiado pela Aliança Empreendedora, atuou com jovens de todo o Brasil e os incentivou a pensarem seus projetos de vida e suas comunidades, compreendendo o empreendedorismo social e as tecnologias digitais como aliados nas respostas aos desafios do mundo atual.
Lá no início, o projeto se aliou a organizações sociais e, hoje, tem seus resultados em parcerias com redes públicas de ensino – regulares e técnicas –, por meio da disponibilização de formações para educadores e estudantes, além da produção de conteúdos multimídia e trilhas interativas nos temas ligados ao empreendedorismo social.
A partir de anos de experiência e de inúmeros projetos apoiados, o programa desenvolveu e lança agora o Guia do Replicador, um material cujo o objetivo é compartilhar as experiências de uma metodologia de apoio a jovens empreendedores num processo de incubação. A publicação apresenta dados sobre negócios de impacto social no Brasil e traça o perfil do empreendedor. Além disso, descreve as estratégias utilizadas e aponta dicas de como desenvolver um programa de incubação.
“Quando eu fui selecionada para o Pense Grande Incubação, o meu negócio, a Ganbatte, estava pronta para o mercado, mas, internamente, essa não era a realidade. Com o apoio da assessoria, conseguimos, de fato, desenvolver e aprimorar processos estratégicos de gestão, tornar o modelo de negócio enxuto e focado na captação de clientes e nas ações essenciais para atingir a nossa meta de sustentabilidade”, relata Karen Franquini, diretora-executiva da Ganbatte, um negócio de impacto especializado em conectar empresas a profissionais de localidades periféricas.
Além da necessidade
Como os dados têm mostrado, empreender é um caminho quando as juventudes esbarram na falta de emprego ou para garantir uma renda extra, por exemplo. Essas são motivações importantes para dar início ao negócio próprio, mas é necessário ir além do empreendedorismo por necessidade e olhar as populações jovens com duas perséctivas.
“Os jovens precisam enxergar o empreendedorismo também como uma oportunidade de crescimento, tanto deles quanto das comunidades onde eles estão inseridos. Para que eles consigam dar esses passos é necessário que tenham mais estrutura e apoio para fazer isso acontecer”, explica Marina Batista, diretora de desenvolvimento humano da Aliança Empreendedora.
Por isso Marina defende a importância da leitura e disseminação da publicação Guia do Replicador, que apresenta possibilidades para que outras pessoas e organizações possam utilizar das experiências nela relatadas e se inspirar nas reflexões e resultados apresentados. “É uma contribuição para esses negócios darem certo”, finalizou.
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