Prefeitura de Jacareí (SP) mapeou e analisou o perfil das pessoas desempregadas e aliou a demanda com formação e empreendedorismo. Diagnóstico foi fundamental para a retomada de ações de inclusão produtiva.

Quando procura-se pelo termo ‘Busca Ativa’ na internet é possível encontrá-lo muito ligado ao ambiente escolar e à saúde. Em suma, a definição é: uma estratégia para fazer com que os serviços, benefícios, programas e projetos cheguem até as famílias e ao território. É ir a campo, de forma planejada, para encontrar aqueles que estão fora dos sistemas de atendimento público. Uma metodologia adaptável, que pode servir, inclusive,  ao ecossistema do empreendedorismo.  

O exemplo da Educação é simbólico. A pandemia de Covid-19 tem contribuído para algo que educadores lutam contra há tempos: a evasão escolar. De acordo com o estudo ‘Enfrentamento da cultura do fracasso escolar’, desenvolvido pelo Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para Infância (Unicef) em parceria com o Instituto Claro, o perfil das crianças e adolescentes mais impactados é bem conhecido: se concentram nas regiões Norte e Nordeste do país, são, em maioria, negras e indígenas ou estudantes com algum tipo de deficiência.

Educadora há 40 anos, Valmíria Dias de Carvalho conhece bem os desafios para manter os estudantes em sala de aula. A gestora e os educadores da Escola Municipal João Pinheiro, em Poços de Caldas (MG), em meio à atual crise sanitária, se desdobraram para que o ano letivo de 2020 terminasse com 99% de frequência dos alunos. Para que isso ocorresse foi necessário buscar as crianças nos mais diversos meios e espaços, como no ambiente digital, e levar o material de estudo em suas casas.

Atualmente, com retorno das aulas presenciais, as escolas, como a de Valmíria, se deparam novamente com o desafio de atrair os estudantes. O projeto Busca Ativa Escolar exemplifica que, por meio da metodologia, um profissional pode identificar uma adolescente que está grávida e sem fazer pré-natal ou uma criança inserida no trabalho infantil que não têm participado das atividades educacionais não presenciais ofertadas pelas suas escolas, pois suas famílias avaliam que o ano escolar está perdido. Nos dois casos, é possível, com a Busca Ativa Escolar, propor encaminhamentos necessários e a articulação entre as diferentes políticas, programas e ações públicas

Empreender

Com cerca de 235 mil habitantes, o município paulista de Jacareí se deparou, em 2017, com um problema que assola o país: o elevado número de pessoas desempregadas. Um hipermercado estava para ser inaugurado na cidade e disponibilizou 250 postos de trabalho. O estabelecimento, todavia, recebeu dez vezes mais o número de currículos. A gestão municipal, ciente da problemática, observou o perfil dos candidatos: 60% mulheres, baixa escolaridade e com poucas oportunidades de emprego na região. 

A Prefeitura de Jacareí, ao analisar a questão, envolvendo diversas secretarias, passou a pensar em soluções para tentar endereçar soluções e, ao formatar um projeto, colocou o princípio do diagnóstico e da busca orientada por cidadãos e cidadãs que se encaixassem no perfil como prioridade. 

Vale dizer que uma das principais atividades produtivas do município é a têxtil. E foi pensando nisso que Daniela Cristina Cambuzano, assessora do gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município, idealizou o projeto Gestoras da Moda.

“A nossa região é um polo de confecções, eu sou do ramo e empreendo também, apesar de estar na gestão pública. Pensei, vamos desenvolver um projeto para as mulheres se tornarem costureiras e empreendedoras”, conta. A gestora identificou, nesse processo, que faltavam oportunidades de trabalho no município, porém, no setor têxtil, havia vagas. Esse problema não se resolvia por conta da falta de profissionais qualificados que atendessem a demanda.

Oportunidades e demandas identificadas, a assessora foi em busca de parcerias e do público interessado pelo projeto. A Aliança Empreendedora contribuiu, entre outras coisas, na construção da metodologia, e a empresa Renner o patrocinou. Após identificar lá no início o perfil da população que estava em busca de trabalho, a Prefeitura de Jacareí abriu um chamamento público para pessoas de baixa renda, e fez ainda uma triagem em parceria com a Secretaria de Assistência Social, para analisar o público atendido ou inscrito no Cadastro Único

Daniela pontua que, ao oferecer as vagas para as formações, há a preocupação em buscar pessoas com o desejo de empreender e que possuem um pouco de conhecimento sobre a área. Essa mistura de perfis, segundo a assessora, contribui com a formação de quem não chega com o objetivo de empreender em um primeiro momento, além das oficinas formarem empreendedoras e geradoras de postos de trabalho.

Outro ponto de atenção do projeto é a realização de diagnósticos periódicos entre a gestão municipal e as pessoas integrantes do projeto. “Eu vejo o quanto isso hoje impacta na renda das famílias. A costura tornou- se renda principal para muitos núcleos familiares, envolvidos nas oficinas e nos empreendimentos. Muitas abriram marcas e estão produzindo para lojas”, analisa Daniela.

As parcerias do projeto também aumentaram: Suzano Papel e Celulose, SENAI, Sebrae e o SESI. Assim como no ambiente escolar, a prefeitura, por meio de identificação e busca de pessoas que precisam de oportunidades de trabalho e de geração de renda, consegue ampliar suas parcerias e contribuir na resolução de carências sociais. A atual edição do programa já bateu a meta das 60 pessoas inscritas.