Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) traçam uma agenda internacional para resolver questões sociais, ambientais e econômicas em todas as regiões do mundo. Como organização social, usamos esses objetivos para pautar as nossas estratégias e ações, e principalmente os impactos que desejamos atingir. Com certa frequência, relatórios da própria Organização das Nações Unidas (ONU) nos trazem informações sobre o andamento de cada objetivo em relação as metas estipuladas, a nível internacional ou nacional. É bem interessante investir um tempo na leitura desses relatórios para entender as grandes tendências acontecendo. Dia 25 de julho foi divulgado um desses relatórios (em inglês) e achei interessante compartilhar com vocês os principais pontos que chamaram a minha atenção. As análises que relato aqui são frutos do relatórios, não da minha opinião pessoal.

Como são 17 objetivos, irei falar somente sobre os que mais nos interessam no quadro do Empreender 360 e da Aliança Empreendedora. Fica então o convite de vocês aprofundarem as outras temáticas. Inclusive, antes de qualquer coisa, quero relembrar de uma premissa nossa: a pobreza e extrema pobreza são conceitos multidimensionais. Dar acesso a uma renda maior, não garante o fim da pobreza ou a resolução de todos seus impactos.

 

Os primeiros anos de implementação dos ODS resultaram em progressos importantes. Apesar de uma certa desaceleração e falta de compromisso dos Estados depois, o relatório relata uma queda progressiva da pobreza global. Contudo, as mudanças climáticas aconteceram muito mais rápido que o previsto e as desigualdades foram aumentando dentro e entre os países. Nesse contexto, o Covid se apresentou como uma crise sanitária, mas se tornou rapidamente em “a pior crise humana e econômica” de uma geração. Os mais pobres e mais vulneráveis, sendo mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência, imigrantes, refugiados e trabalhadores informais, foram impactados em escalas maiores pela pandemia. Isto é a nível internacional, mas também vimos nos últimos meses que o Brasil não escapa desse movimento.

ODS 1 – Erradicação da pobreza

Depois de uma queda de 15,7% (2010) para 10,0% (2015), o ritmo da redução da extrema pobreza desacelerou. Em 2019, o indicador bateu em 8,2%. A pandemia está mostrando sinais de inversão da tendência. Em outros termos, podemos esperar um aumento da pobreza em 2020 e talvez nos anos seguintes. As conquistas alcançadas até hoje demonstram ainda uma certa fragilidade, um pouco na imagem de um castelo de cartas.

ODS 5 – Igualdade de gênero

O relatório relembra a gente que mulheres passam 3 vezes mais tempo em tarefas domésticas (não remuneradas) do que os homens. O fechamento das escolas e centros de acolhimento de crianças durante o confinamento pediu a disponibilidade dos pais, principalmente das mães, para cuidar das crianças e acompanhar sua educação em casa. Provavelmente a crise irá mostrar uma maior pressão em cima das mulheres.

Em outro aspecto, empoderar mulheres com celulares demonstrou ser eficaz para o seu desenvolvimento social e econômico. Mesmo que no Brasil, a maior parte da população possui um celular, descobrimos aqui que esse aparelho, e provavelmente, de maneira ampla, a inclusão digital, são fatores catalizadores de impacto.

ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico

A economia global já apresentava sinais de desaceleração antes do Covid, principalmente em termos de produtividade e desemprego. Como já devem imaginar, a pandemia afundou tudo e levou o mundo em uma recessão global. Estima-se que em 10,5% a queda em horas trabalhadas no segundo quadrimestre de 2020, equivalente a 205 milhões de trabalhadores. Os mais impactados são as pequenas e médias empresas, trabalhadores informais, autônomos e empreendedores individuais. A renda dos trabalhadores informais caiu em 60% nos primeiros meses da crise.

Ainda no ODS 8, a equipe da ONU avisa que a situação dos jovens não mudou muito desde 2005: em 2019, 22% deles estavam sem trabalhar ou estudar.

ODS 10 – Redução das desigualdades

A luta contra as desigualdades resultou em sinais tímidos de melhoria. Na maioria dos países, os 40% mais pobres viram sua renda aumenta entre 2012 e 2017, em metade deles, esse aumento foi maior do que a média nacional (indicador de redução da desigualdade). A crise do Covid bateu em cheio nos mais pobres e vulneráveis, expondo e aumentando assim as desigualdades profundas nos países.

 

Lendo esses extratos do relatório do PNUD, vemos que a tendência mundial está presente também no território brasileiro. Os avanços ganhados até hoje são, de maneira global, ainda tímidos e frágeis. Mais do que nunca, precisamos do compromisso de todos os atores do ecossistema caso queiramos alcançar os nossos objetivos de mundo mais justo, igual e resiliente.