No RS, parceria entre Aliança Empreendedora e Governo do Estado cria pontes na comunidade por meio do empreendedorismo
Andreia Costa é pedagoga e trabalha com capacitação de jovens em situação de vulnerabilidade social na Secretaria de Assistência Social de Uruguaiana, município na fronteira fluvial do Rio Grande do Sul com a Argentina e o Uruguai. Em 2023, ela teve contato com o Empreenda Social, uma parceria entre o governo do estado e a Aliança Empreendedora para capacitar multiplicadores no empreendedorismo que dê conta de abrir caminhos para pessoas que sempre encontram as janelas de oportunidades trancadas.
Andreia trabalha em três Centros de Referência em Assistência Social – CRAS – do município, e foi nos jovens de sistemas de assistência socioeducativa que ela viu onde o Empreenda Social poderia ser aplicado. “Os meninos aprenderam crochê no Centro de Atendimento Socioeducativo, e eram muito bons, gostavam mesmo. Por outro lado, víamos várias mulheres que não tinham renda por não ter um ofício. Juntamos os dois”, ela conta.
A ideia foi simples: o CRAS criou um curso para os meninos darem aulas de crochê para mulheres, em maioria, beneficiárias do CadÚnico – Cadastro Único para Programas Sociais- , que em geral são pessoas de baixíssima renda e atendidas por programas como o Bolsa Família.
Ideia simples, mas engenhosa, afinal, é incomum ver adolescentes ensinando adultos ou idosos a aprender algo novo, muito menos crochê. “No começo as senhorinhas esbravejaram. Diziam que elas tinham idade para ensinar alguma coisa. Mas deu certo. Os meninos se saíram super bem como professores e elas adoraram.”
Andreia explica que além da remuneração recebida pelos jovens para o ciclo de 5 aulas, os meninos saíram da experiência com autoestima renovada, se sentindo úteis e importantes para a sociedade. Isso sem falar do ganho social com a troca intergeracional.
No Rio Grande do Sul, o Empreenda Social é uma parceria entre o Programa Empreender 360, da Aliança Empreendedora, e o Governo do Estado. O programa faz parte do que chamamos de Acordo de Cooperação Técnica (ACT), que é quando uma entidade ou organização fornece conhecimento sobre determinada área para o poder público. Em geral, em áreas cuja gestão pública tem pouca experiência ou alcance de atuação. Os ACTs não são como convênios porque neles não há fins lucrativos. O ganho é essencialmente social.
No caso de Uruguaiana, o Empreenda Social ajudou, principalmente, a servidora a compreender em quais grupos era possível fomentar e estruturar o microempreendedorismo. Ou, como ela mesma disse, entender onde estava o Empreenda Social dentro daquela realidade. Mas além de conectar os dois grupos, tanto as mulheres alunas das aulas de crochê quanto os meninos professores, aprenderam a precificar e avaliar onde poderão vender seus produtos e serviços, quais são as linhas de microcrédito disponíveis, como acessá-las, além de logística, estoque e por aí vai.
O secretário de Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul, Beto Fatinel, disse que o estado não teria capacidade de execução direta para um programa do porte do Empreender Social, e deseja ampliar o ACT no estado. “Há uma quantidade enorme de pessoas sem renda, recebendo benefícios que cobrem R$ 20 por dia para uma família inteira, e que não faz a menor ideia de como sair disso. O Empreenda Social cria a oportunidade para essas pessoas ascenderem para outro momento de suas vidas; de melhorar a renda e gerar emprego a partir da qualificação e dos saberes de cada um”, afirma o secretário.
Fatinel conta ainda que as equipes de assistência social são enxutas e estão sempre lidando com questões sociais de toda ordem, o que impede atender a perspectiva de geração de renda de forma ordenada e com impacto real.
No caso do Rio Grande do Sul, os eventos climáticos sucessivos foram uma pedra no sapato para dar mais fôlego para o programa, afinal, as equipes estavam focadas em resolver as urgências, como falta de casas, comida, água, atendimento sanitário, entre outros.
Por outro lado, as experiências bem-sucedidas estão servindo de farol nesse momento de retomada do estado. Com o empobrecimento da população, programas como o Empreenda Social podem ajudar na recuperação de renda e, como vimos no exemplo da pedagoga Andréia, da recuperação da autoestima.
Impacto duradouro
Em setembro, o ACT do Rio Grande do Sul completou um ano. De setembro de 2023 a junho deste ano, o projeto impactou ao menos 400 pessoas de forma direta. O programa foi oferecido para todo o estado, e 45 municípios conseguiram completar todas as fases de formação dos facilitadores – como é o caso da Andreia, e dez cidades realizaram ao menos uma turma.
Após essas primeiras turmas, o programa segue oferecendo suporte para os participantes. Tanto os facilitadores quanto a população diretamente impactada com formação sobre empreendedorismo. “Nós percebemos que depois do primeiro passo, eles deslancham e começam a buscar informação por si próprios. Nisso a Aliança Empreendedora tem sido uma enorme parceira, fornecendo todo o auxílio necessário”, disse o secretário.
A formação contínua e o suporte oferecido são fundamentais para a autonomia produtiva através do empreendedorismo, contribuindo para a inclusão social e o fortalecimento de pequenos negócios nos municípios participantes. Uma segunda etapa dessas formações deve ocorrer entre 2024 e 2025 e já está em fase de elaboração do projeto.
Empreender 360
A Aliança Empreendedora nasceu em Curitiba, Paraná, 2005, com o objetivo de capacitar e apoiar microempreendedores formais e informais em vulnerabilidade econômica de todo o Brasil. Está alinhada com os objetivos dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), da ONU (Organização das Nações Unidas).
A organização acredita que todos os brasileiros podem empreender de forma digna e justa, e sabe que o empreendedorismo é uma ferramenta poderosa de inclusão socioeconômica. Saiba mais em aliancaempreendedora.org.br.
O Empreender 360 é um dos programas institucionais da Aliança Empreendedora. A iniciativa existe desde 2016 e é voltada para a conexão e fortalecimento do ecossistema que atua na jornada do microempreendedor brasileiro informal ou formal.
Nesse sentido, promove e integra estudos, encontros estratégicos e recomendações voltadas a todo o ecossistema empreendedor junto a diversas entidades, especialistas e poder público, fundamentando-se nas experiências e vivências partilhadas.
O programa Empreender 360 caminha de forma vinculada com políticas públicas de desenvolvimento social e econômico, acelerando a transição para uma economia mais justa.
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